A importância da brincadeira para os gatos

10/10/2019=^.^=

Assim como peixes têm o corpo todo adaptado para nadar e pássaros para voar, os gatos têm o corpo adaptado para caçar. É o que eles nasceram para fazer. Quase tudo no físico de um gato tem relação com a caça: dentes e garras de predador, patas com almofadas silenciosas, nariz 40x mais potente que o humano, olhos que enxergam no escuro, orelhas rotativas que captam o ultrassom emitido pela presa, bigodes que detectam movimento apenas pela vibração do ar…

E não é à toa: um predador passa a maior parte do tempo acordado caçando. Caçar é literalmente a vida de um gato. Porém, quando colocados em um ambiente doméstico, eles perdem essa oportunidade e precisam de um substituto: a brincadeira interativa.

Um gato sem caçar ou brincar é como um peixe que não pode nadar ou um passarinho impedido de voar. As consequências físicas e psicológicas disso são inúmeras, desde depressão, apatia, medo, ansiedade, compulsões até obesidade e problemas de comportamento, mesmo que nenhum desses sintomas seja percebido pelo humano.

Por isso a brincadeira interativa é fundamental, tanto quanto água, ração e proteção. Enquanto estes contribuem para a saúde física, o brincar atua pela boa saúde mental. O que, por consequência, sempre acaba refletindo no corpo também.

 

Quanto e como brincar?

O ideal é brincar todo dia com um brinquedo de vara, por cerca de 30 minutos. Você saberá que está na hora de parar quando o gato se deitar completamente de lado – neste momento, deixe ele se deliciar com a “presa” por um tempo e depois guarde-a num armário.

Durante a brincadeira é muito importante simular o comportamento de uma presa, ou seja, arrastar a varinha para longe do gato e não na direção dele (um camundongo não vai correr para a boca dele, não é?). Finja que a “presa” se escondeu embaixo de tapetes e lençóis, atrás de móveis e almofadas; finja que ela pousou na parede ou no chão e que ela se assusta quando o gato dá o bote.

Mas atenção: é muito importante que o gato consiga pegar a presa algumas vezes. Ela pode até escapar de novo, mas ele precisa sentir que cravou os dentes e unhas nela. Por este motivo, brincar com um laser não é ideal e jamais substitui a brincadeira com vara (leia sobre isso aqui).

 

Serve brinquedo automático?

Se o gato se interessa, o brinquedo automático pode ser um bom aliado, porém não deve ser a única alternativa. É importante para o gato perseguir algo mais realista, o que só um humano consegue imitar. Além de que a brincadeira é um momento muito importante para fortalecer o elo entre vocês.

 

Serve bolinha e ratinho?

Não. Bolinhas e ratinhos são importantes, mas não devem ser a única opção por não serem interativos. É como brincar com uma presa que já está morta e isso não tem a mesma graça e nem o mesmo efeito que o brinquedo interativo – com coisas estáticas o gato não tem mesma a sensação de missão cumprida e satisfação.

 

Arranhador é brinquedo?

Não. Arranhador é arranhador, ele simula uma árvore onde o gato possa subir para espreitar e dar o bote na presa, mas não a caçada em si.

 

Posso brincar com vários gatos ao mesmo tempo?

Depende de quantos são “vários” e de como é a relação entre eles. Alguns gatos se dão bem e sabem brincar juntos, dando a vez e não direcionando o ataque para o outro gato. Outros, principalmente em casas com muitos gatos onde eles disputam sua atenção e recursos, nem tanto.

Se você perceber que na brincadeira conjunta um gato não persegue a presa, não tem a oportunidade de dar o bote, não crava unhas e dentes no brinquedo e fica sempre olhando para o (s) outro (s) com medo de receber um ataque ou patada, é porque ele precisa de um tempo sozinho para brincar com você.

No momento da brincadeira interativa o foco é o brinquedo, e não outros gatos. Se um gato pula no outro em vez de no brinquedo, ele está redirecionando o ataque e isso não é visto como brincadeira para a vítima, que pode ficar traumatizada e não brincar mais por medo.

Brinque de forma individual com cada gato para observar como é o comportamento dele sem interferência dos outros, assim você saberá que atitudes esperar na brincadeira conjunta também. Se algo muda, ele precisa brincar sozinho.

Mas meu gato não brinca!

Calma, brinca sim! Todos os gatos, sem exceção, brincam. A brincadeira é o faz de conta da caçada, e caçar é o que eles nasceram para fazer, afinal. O que acontece é que nem sempre o faz de conta é convincente para o seu gato.

Pode ser que a “presa” esteja fazendo coisas que presa nenhuma jamais faria na natureza: vindo na direção dele, pulando freneticamente, balançando entres as patas dele ; ou pode ser que ela não é da textura, formato, cheiro adequados para o seu gato. Também acontece de o gato não entender o faz de conta, por nunca ter brincado de verdade antes.

Independente da situação, é necessário persistir e observar o gatinho para entender as preferências dele, trocando o brinquedo, o ambiente da brincadeira, os gestos da presa, a velocidade… Tudo influencia.

Alguns gatos preferem pular para pegar brinquedos leves que voam pelo ar, outros preferem dar o bote num brinquedo gordinho que correu para baixo do tapete. Use a sua imaginação e criatividade, com amor e paciência uma hora ele entende o faz de conta e será um gato muito mais feliz!

E lembre-se sempre que cada gato tem um jeito de brincar. Gatos não caçam correndo atrás da presa, eles caçam espreitando e dando o bote. Não adianta sair correndo e esperar que o gato vá atrás de você – isso nem é muito saudável, na verdade, pois eles não foram feitos para longas corridas.

 Às vezes o jeito de brincar do seu gatinho é ficar um tempão espreitando a presa e dar um pulinho de vez em quando, às vezes é pegá-la na boca e levar para a toca, às vezes é andar pela parede e dar cambalhotas no ar. Cada gato tem sua tática de caça! Divirta-se descobrindo a do seu e entrando no faz de conta!

E aí, o que você vai ser hoje, um camundongo, um passarinho, um lagarto ou um inseto?

 

Fotos: Tambako the Jaguar, Patrícia Carvalho, Ralf Κλενγελ, Jennifer Lamb e svklimkin.