Gatos podem ter transtornos mentais?
Resposta curta: é claro que sim! O cérebro dos gatos é muito semelhante ao nosso e eles podem, por causas internas ou externas, desenvolver doenças, transtornos e distúrbios mentais da mesma forma como seres humanos (e cachorros, cavalos, aves…).
A grande dificuldade em lidar com o assunto vem do fato de que sabemos muito pouco sobre o funcionamento do cérebro, animal ou humano. Além disso, é possível conviver com uma pessoa por anos sem saber que ela tem um transtorno mental, e pessoas podem usar palavras para descrever como se sentem, com os animais é necessária uma percepção muito mais ampliada para descobrir que tem algo realmente errado.
Por esse motivo, transtornos mentais nem sempre recebem a mesma atenção que, por exemplo, um câncer ou vírus. O que não significa que sejam menos perigosos! Transtornos mentais podem não só destruir a qualidade de vida de um animal, como também causar consequências graves, por vezes letais, para o organismo como um todo. Mente doente, corpo doente.
Como saber se meu gato tem um transtorno?
O diagnóstico só pode ser feito por um veterinário, de preferência um especialista em comportamento e psiquiatria veterinária (você não iria tratar depressão com seu dermatologista, não é?). Mas é em casa que começa o desafio: muitos transtornos apresentam sinais sutis e só quem convive com o animal pode percebê-los.
Um transtorno muito comum é o obsessivo compulsivo, TOC. Ele pode manifestar-se de várias formas, mas a predominante é a lambedura compulsiva, em que o gatinho (ou cachorro) lambe determinadas áreas do corpo, principalmente barriga (pata, no caso dos cães), com frequência anormalmente alta a ponto de arrancar os pêlos e formar feridas.
E é esse excesso que diferencia um transtorno de um comportamento comum. Sofrer a perda de um outro amigo peludo é normal; ficar dias sem comer, sem brincar, dormindo, desanimado, é depressão. Ficar com medo de sapatos por uns dias após levar um pisão na pata é normal; ficar com medo de tudo, entrar em pânico com novos sons, ter pesadelos, viver escondido, pode ser estresse pós-traumático por algo que aconteceu antes mesmo de você adotá-lo.
Não existe uma linha, ou uma frequência, da “normalidade”, afinal cada gato é um gato. Normalmente já pode-se considerar que existe um transtorno a partir do momento em que a qualidade de vida do gato esteja comprometida. Para descubrir isso, pergunte-se o mesmo que perguntaria para detectar qualquer outra doença:
- Ele está comendo e bebendo água?
- Ele está usando a caixa de areia, corretamente, todos os dias?
- Ele está ativo, brincando?
- Ele anda confiante pelo espaço?
- Ele está apresentando algum comportamento novo ou estranho?
- Existe algum sinal físico de que algo pode não estar bem, como feridas, vômitos muito frequêntes, sangue, tremores, convulsões?
- Houve alguma mudança súbita de comportamento, como agressões, pesadelos, apatia?
- Algo parece errado? Sua sensibilidade e conexão com o peludo podem fazer toda diferença, se algo parece errado, provavelmente está.
Caso qualquer resposta pareça suspeita, consulte o veterinário com essas observações em mãos (papel e caneta sim, detalhes importam). Você não precisa necessariamente levar o gato para consulta, na verdade é até melhor que o veterinário vá até você para que ele possa ver o ambiente em que o gato vive.
Tratamento
Tratar um transtorno mental exige muitos esforços conjuntos, graduais e de longo prazo para obter-se um bom resultado. Conjuntos porque é necessário associar terapias (brincadeiras, ambiente adequado) às intervenções químicas (“remédios”).
Graduais porque não precisa começar com medicamentos, inicie com florais e feliway, talvez homeopatia, medicinas alternativas, e vá gradualmente aumentando conforme orientações do veterinário até, caso seja extremamente necessário e como último recurso, chegar em antidepressivos, antipisicóticos, sedativos, etc.
E por fim, de longo prazo, porque é necessário ter muita paciência e determinação para ajudar um animal com transtornos mentais. Pode ser que leve meses ou anos para você ver melhoras satisfatórias, pode ser até que o gato precise de acompanhamento para o resto da vida. Você pode precisar mudar a casa ou sua rotina para garantir o bem estar do peludo, mas vê-lo feliz e saudável sempre vale a pena!
Caso queira saber mais sobre transtornos mentais em animais, assista esta TED Talk (clique no balãozinho para ativar a legenda em português) com Laurel Braitman do livro Animal Madness:
Fotos: Gisella Klein, Rahen Z e Cristiano Betta